Evolução da Covid-19 em Mato Grosso: panorama atual e projeções para as regiões de saúde
Autores
Moiseis dos Santos Cecconello a
Ana Paula Muraro b
Ligia Regina de Oliveira b
Emerson Soares dos Santos c
b Instituto de Saúde Coletiva
c Departamento de Geografia
Resumo
Destaques
- Após 04 de abril, o número de casos de COVID-19 duplicou por cinco vezes no estado, sendo observado menor espaço de tempo para as duas últimas duplicações;
- A confirmação do primeiro caso em cada região se deu em espaços de tempo díspares. Em algumas regiões o primeiro caso de COVID-19 foi confirmado cerca de 60 dias após o primeiro registrado no estado;
- Verificou-se comportamento distinto no incremento de casos confirmados nas últimas quatro semanas epidemiológicas (19 a 22), com maior aceleração em alguns municípios;
- A maior taxa de incidência de COVID-19 é verificada na Região da Baixada Cuiabana a 72 dias após o primeiro caso confirmado (103,84/100.000 habitantes), seguida pela Região Araguaia Xingu (94,72/100.000 hab.), após 38 dias do primeiro caso registrado, e pela Sul Matogrossense a 63 dias do primeiro caso (75,37/100.000 hab.);
- A taxa de infectividade (R0) se distinguiu entre as regiões de saúde, variando de 0,92 (Centro Norte) a 2,85 (Noroeste Matogrossense);
- Pela previsão, mantendo-se o ritmo atual de contágio, seis regiões atingirão o número máximo de infectados (pico) no mês de agosto e outras cinco no mês de setembro.
Painel de Monitoramento e Projeções Coronavirus Mato Grosso
Introdução
Entretanto, ao final do mês de abril, medidas de flexibilização foram adotadas, sendo previamente explorado seus efeitos na diminuição considerável do isolamento social em Mato Grosso, com consequente aumento do número de casos na capital e no interior do estado nas primeiras semanas de maio (Santos et al., 2020a). Até o dia 30 de maio, Mato Grosso apresentava 2.373 casos confirmados de COVID-19 entre residentes do estado, sendo observado o aumento de 1.038 casos na 22ª semana epidemiológica (SE). Nesta data haviam 147 indivíduos hospitalizados, sendo pouco mais da metade ocupando leitos de UTI (51,7%), e 56 óbitos de residentes, resultando em taxa de letalidade 2,4% (SES/MT, 2020).
Quando avaliada a abrangência das medidas de supressão da pandemia entre os municípios de Mato Grosso, observa-se divergências mesmo em panoramas epidemiológicos semelhantes, a exemplo das ações adotadas pela capital do estado e o município de Várzea Grande, enquanto esta última permitiu a retomada de praticamente todas atividades de comércio e serviços, incluindo shoppings e restaurantes, a partir de 25 de abril (Decreto nº 24 de 24 de abril de 2020), em Cuiabá as restrições dessas atividades se mantiveram até o decreto nº 7929/2020, que permitiu a retomada a partir de 03 de junho.
Mato Grosso está organizado em 16 Regiões de Saúde que devem, minimamente, ofertar ações e serviços de atenção primária, urgência e emergência, atenção psicossocial, atenção ambulatorial especializada e hospitalar e vigilância em saúde (Mato Grosso, 2012). Sabe-se que as regiões de saúde do estado apresentam importantes disparidades sociodemográficas, econômicas e de capacidade instalada quanto aos serviços de saúde, incluindo a infraestrutura necessária para o atendimento de pacientes com formas mais graves da COVID-19 (Santos et al., 2020b). Desta forma, o avanço da epidemia pode ter impactos também distintos em cada região.
Metodologia
Panorama dos Casos de COVID-19
Mato Grosso
Regiões de Saúde
Tabela 1: Ocorrência da COVID-19 entre o primeiro caso e 30 de maio, segundo regiões de saúde de Mato Grosso
Regiões de Saúde |
Data do primeiro caso |
Tempo (dias) entre o primeiro caso e 30 de maio |
Número de casos confirmados |
Taxa de incidência (/100.000 habitantes) |
Alto Tapajós |
28/03/2020 |
66 |
39 |
37,82 |
Araguaia Xingu |
23/04/2020 |
38 |
90 |
94,72 |
Baixada Cuiabana |
20/03/2020 |
72 |
995 |
103,84 |
Centro-Norte |
05/05/2020 |
26 |
47 |
35,93 |
Garças Araguaia |
18/04/2020 |
43 |
82 |
68,67 |
Médio Araguaia |
06/04/2020 |
55 |
42 |
40,71 |
Médio Norte Matogrossense |
01/04/2020 |
60 |
159 |
59,12 |
Noroeste Matogrossense |
06/04/2020 |
55 |
36 |
19,31 |
Norte Araguaia Karajá |
13/05/2020 |
12 |
6 |
27,85 |
Norte Matogrossense |
22/05/2020 |
10 |
14 |
19,99 |
Oeste Matogrossense |
06/04/2020 |
55 |
64 |
34,72 |
Sudoeste Matogrossense |
04/04/2020 |
47 |
48 |
40,89 |
Sul Matogrossense |
29/03/2020 |
63 |
403 |
75,37 |
Teles Pires |
02/04/2020 |
59 |
284 |
59,01 |
Vale do Arinos1 |
23/05/2020 |
8 |
5 |
10,08 |
Vale do Peixoto |
30/04/2020 |
30 |
57 |
55,75 |
Mato Grosso |
20/03/2020 |
72 |
2.371 |
67,24 |
1 Região com menos de dez dias registrados, sendo utilizado para as projeções o parâmetro α obtido para o estado de Mato Grosso.
Projeções
Tabela 2. Projeções1 da ocorrência de COVID-19 em Mato Grosso, segundo regiões de saúde, 2020 e 2021.
Regiões de saúde |
R0 |
Data do número máximo de infectados (pico) |
Dias entre o primeiro caso e o pico |
Número total de infectados |
Alto Tapajós |
2,74 |
04/08/2020 |
131 |
12.412 |
Araguaia Xingu |
2,50 |
04/08/2020 |
103 |
10.813 |
Baixada Cuiabana |
1,74 |
12/09/2020 |
170 |
55.383 |
Centro-Norte |
0,92 |
21/03/2021 |
321 |
84 |
Garças Araguaia |
1,62 |
01/10/2020 |
165 |
3.882 |
Médio Araguaia |
2,12 |
06/09/2020 |
153 |
7.980 |
Médio Norte Matogrossense |
2,66 |
10/08/2020 |
131 |
39.193 |
Noroeste Matogrossense |
2,85 |
31/07/2020 |
116 |
15.252 |
Norte Araguaia Karajá |
2,53 |
16/08/2020 |
95 |
3.295 |
Norte Matogrossense |
2,48 |
08/08/2020 |
78 |
7.155 |
Oeste Matogrossense |
1,19 |
27/01/2021 |
291 |
1.826 |
Sudoeste Matogrossense |
2,30 |
23/08/2020 |
130 |
13.736 |
Sul Matogrossense |
1,99 |
03/09/2020 |
157 |
39.308 |
Teles Pires |
1,94 |
07/09/2020 |
157 |
30.973 |
Vale do Arinos2 |
2,01 |
26/09/2020 |
124 |
2.887 |
Vale do Peixoto |
2,06 |
04/09/2020 |
127 |
9.636 |
Mato Grosso |
2,04 |
03/09/2020 |
163 |
307.852 |
1Modelo SIR a partir dos dados disponíveis até 30 de maio de 2020.
2Região com menos de dez dias registrados, sendo utilizado para as projeções o parâmetro α obtido para o estado de Mato Grosso.
Após atingir o pico, deve-se atentar que a curva epidemiológica decresce, contudo, a desaceleração se dá lentamente, ou seja, a disseminação do vírus permanece, mas o número de infectados se espalha ao longo do tempo até cessar o número casos (Figura 4).
Embora a menor incidência, neste momento, seja na Região Noroeste, devido a sua alta taxa de contágio (R0=2,85) o pico se daria de maneira rápida e com a maior proporção de infectados. As seis regiões (Noroeste, Alto Tapajós, Norte, Médio Norte, Araguaia Xingu, Norte Araguaia Karajá) que primeiro atingirão o pico de casos serão as que têm a maior proporção de infectados.
Figura 3: Taxa de transmissão (R0) e data de maior número de casos registrados (pico) estimado para Mato Grosso, segundo Regiões de Saúde.
Figura 4: Projeções* da proporção de pessoas com COVID-19 para as Regiões de Saúde de Mato Grosso.
Referências
DIVISA/SMS/CUIABÁ. Diretoria de Vigilância em Saúde. Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá- MT. INFORME EPIDEMIOLÓGICO 01. Publicado em 06 de abril de 2020. Disponível em: <http://www.cuiaba.mt.gov.br/coronavirus//veja-os-dados-epidemiologicos-da-capital/21795>
Freire FHMA. Projeção populacional municipal com estimadores bayesianos, Brasil 2010 - 2030. In: Sawyer, D.O (coord.). Seguridade Social Municipais. Projeto Brasil 3 Tempos. Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/SG/PR) , Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Brasil (PNUD Brasil) e Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG), 2019.
Li R, et al. Substantial undocumented infection facilitates the rapid dissemination of novel coronavirus (SARS-CoV2). Science DOI: 10.1126/science.abb3221.
Santos ES, Muraro AP, Oliveira LR. Efeitos da flexibilização das medidas de isolamento e distanciamento físico em Cuiabá-MT. Nota Técnica. IGHD/ISC – UFMT: Cuiabá, 2020a. Disponível em: <http://geografiaufmt.com.br/index.php/pt-br/covid-efeitos-flexibilizacao-cuiaba>
Santos ES, Zeilhofer P, Muraro AP. Análise de demanda adicional de leitos hospitalares gerais, UTI e equipamentos de ventilação assistida em Mato Grosso em função da pandemia de COVID-19: impactos regionais. Nota Técnica. IGHD/ISC – UFMT: Cuiabá, 2020. Publicado em: abril de 2020b. Disponível em: <http://geografiaufmt.com.br/index.php/pt-br/covid-demanda-de-leitos-utis>
SES/MT. Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso: Boletim Informativo Nº 83 Situação Epidemiológica SRAG e COVID-19. Publicado em: 30 de maio de 2020. Disponível em: <http://www.saude.mt.gov.br/informe/584.>
UFPel. Universidade Federal de Pelotas. COVID-19 no Brasil: várias epidemias num só país. Publicado em 25 de maio de 2020. Disponível: https://wp.ufpel.edu.br/covid19/files/2020/05/EPICOVID19BR-release-fase-1-Portugues.pdf. Acesso em 31 de maio de 2020.
WHO – World Health Organization. WHO Coronavirus Disease (COVID-19) Dashboard. Atualizado 30 de maio de 2020. Disponível em: https://covid19.who.int/
Forma de citação:
Ceconello MS, Muraro AP, Oliveira LR, Santos ES;. Evolução da Covid-19 em Mato Grosso: panorama atual e projeções para as regiões de saúde. Nota Técnica. ICET/IGHD/ISC – UFMT: Cuiabá, 2020.